domingo, 11 de maio de 2014

pelo reino maravilhoso do senhor Torga...

"Vou falar-lhes dum Reino Maravilhoso. Embora muitas pessoas digam que não, sempre houve e haverá reinos maravilhosos neste mundo. O que é preciso, para os ver, é que os olhos não percam a virgindade original diante da realidade, e o coração, depois, não hesite. Ora, o que pretendo mostrar, meu e de todos os que queiram merecê-lo, não só existe, como é dos mais belos que se possam imaginar. Começa logo porque fica no cimo de Portugal, como os ninhos ficam no cimo das árvores para que a distância os torne mais impossíveis e apetecidos. E quem namora ninhos cá de baixo, se realmente é rapaz e não tem medo das alturas, depois de trepar e atingir a crista do sonho, contempla a própria bem-aventurança.
Vê-se primeiro um mar de pedras. Vagas e vagas sideradas, hirtas e hostis, contidas na sua força desmedida pela mão inexorável dum Deus criador e dominador. Tudo parado e mudo. Apenas se move e se faz ouvir o coração no peito, inquieto, a anunciar o começo duma grande hora. De repente, rasga a crosta do silêncio uma voz de franqueza desembainhada:
- Para cá do Marão, mandam os que cá estão!...
Sente-se um calafrio. A vista alarga-se de ânsia e de assombro. Que penedo falou? Que terror respeitoso se apodera de nós?
Mas de nada vale interrogar o grande oceano megalítico, porque o nume invisível ordena:
- Entre!
A gente entra, e já está no Reino Maravilhoso."
(Miguel Torga - Um Reino Maravilhoso (Trás-os-Montes), Coimbra, Atlântida,1941)

(a nossa vista ao acordar)

(a lareira que estava sempre acesa, fossem que horas fossem, qualquer que fosse a estação)



(a capela de santa Margarida. diz que tenho que ir virar uma telha, antes do M. chegar, para proteger o parto)

(o tamanho que esta fraga tinha... acho que a erosão desta pedra foi brutal!)
(uma das vistas de sempre...)

(a melhor que consegui do rio visto cá de cima, sem sair do carro... dos trajetos de comboio mais bonitos...)

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